quarta-feira, 8 de agosto de 2012

"SERGIPE NÃO REALIZA TRANSPLANTES RENAIS DESDE JANEIRO", DISSE O PROMOTOR DA SAÚDE, FÁBIO VIEGAS NO CABARé DE QUINTA


 Por Daniela Domingos
 
Um dos maiores problemas da população seja ela carente ou não, são os serviços ofertados pela saúde. Já que todos nós, independente da condição social e financeira, acabamos sendo diretamente afetados. De uma coisa é certa: ela tem que funcionar - embora o seu sistema esteja longe de ser caracterizado como “ideal”. E, então, a pergunta que não quer calar é: de quem é a culpa? Dos gestores públicos ou do sistema como um todo?

Para responder essas questões pertinentes, o atual promotor de Justiça dos Direitos à Saúde, Fabio Viegas, foi o convidado da 50ª edição de NósnoCabaré.comConvidados, encontro realizado todas as quintas no bar Meu Buteco, na Avenida Tancredo Neves, quando passou por uma dura sabatina dos frequentadores do Cabaré que queriam saber: “Por que a saúde só funciona através do Ministério Público?”. Com a palavra, o senhor promotor de justiça.

Após relatar a sua trajetória profissional, que começou em 1998, com a sua aprovação no concurso público para a Promotoria Estadual de Justiça e passando por diversas cidades, Fábio Viegas, respondeu as perguntas uma a uma categoricamente, esclarecendo as dúvidas jurídicas com exemplificação de casos reais de intervenções que aconteceram em Sergipe relacionadas à saúde.
O Ministério Público

“Em primeiro lugar, tudo o que o MP faz é em comprometimento com a lei, mesmo que haja desagrado com o poder público. O problema com a saúde pública não vem de hoje, já que muitos gestores não cumprem o acordado. Eu mesmo travo lutas pessoais diárias para os casos urgentes de vida ou morte para pacientes, em que é preciso estabelecer multas diárias pessoais para os prefeitos para que os problemas sejam resolvidos. Mas o melhor disso tudo, é que todos estão cada vez mais abertos ao diálogo”, explicou.

“O intuito não é fazer pautas diárias para a imprensa, porque temos um dever de cobrar a qualidade do serviço de saúde à população de Sergipe, que apesar dos investimentos de milhões de reais, faltam ainda comprometimento, gestão e boa remuneração para os profissionais. Sergipe vive, nesse sentido, uma situação muito complicada. Precisamos discutir a saúde pública na visão da justiça”, enfatizou.

“A saúde hoje enfrenta desafios e eu já me deparei com inúmeros processos que tramitam na justiça, e percebo que muito pode ser feito. O papel do judiciário é fiscalizar, e o executivo o de realizar, tudo garantido pela constituição de 1988, que nos deu vários direitos”, disse.

“Sei que a fundação hospitalar veio para melhorar, mas também por conta de vários procedimentos instaurados, temos, por exemplo, médicos no interior sergipano que possuem uma carga-horária elevada, por acumular plantões em diversas instituições, e não dão conta. E existem ainda os que não cumprem horário estabelecido. Queremos que os profissionais ganhem bem, mas também trabalhem bem. Sabemos que uma grande parte é comprometida e que querem ver os serviços funcionarem”, opinou.
 
 
A população

“Por sua vez, as pessoas estão procurando mais os órgãos de controle social e a imprensa, para procurarem os seus direitos e reclamar os serviços. Temos um MP que não é só para acusar, mas que tem sensibilidade para ver as dificuldades da população e também do limite prudencial do gestor, porque cada município tem a sua demarcação, mas há muito que pode ser feito”, afirmou, acrescentando categoricamente que em nenhuma cidade do Estado a saúde está funcionando de maneira ideal.

“A sociedade nos paga para ter o equilíbrio, entre o povo e a lei, e ainda temos que filtrar as denúncias. Hoje, por exemplo, um fato inadmissível é que desde janeiro os sergipanos não podem contar com transplantes renais”, falou, apresentando uma lista do ajuizamento de diversas ações na capital. “Não é bom ser gestor de saúde, porque a fiscalização é intensa. É complexo em qualquer esfera e ainda existem os problemas que não podem ficar perdurando por muito tempo”, acrescentou.

Planejamento

“Assim como o Judiciário, deve haver planejamento para a classe médica que trabalha no interior, ou seja, organização, e resolver os problemas. O Ministério Público sempre está aberto ao diálogo. Sei do valor dos profissionais, que estes, por sua vez, devem respeito à sociedade”, afirmou. “Diante da grande complexidade, todos os dias quando eu acordo, eu penso ao me dirigir ao trabalho: ‘Meu Deus, o que me espera hoje?’, porque antes de tudo temos uma saúde politizada”, concluiu.

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